Salto quebrou instantes antes de Júlia pisar na pista, obrigando a então musa a desfilar na ponta do pé; cabeleireira vive realização de sonho da infância
O Carnaval 2023 foi desafiador para Júlia Costa Machado, hoje com 21 anos e Rainha da Coloninha. Com a fantasia vestida e a terceiro sirene da passarela soando, marcando a abertura dos portões para o desfile, a jovem estava pronta para estrear como musa na passarela da Nego Quirido. Eis que Júlia dá um passo em falso e o salto do pé esquerdo quebra.
“Ah, eu não vou mais!”, reagiu Júlia, imediatamente. Não havia como trocar o calçado sem comprometer a fantasia. A tensão se instaurou no camarim. “Vai sim, Júlia, a gente lutou para estar aqui”, insistiu a rainha daquele ano, Jenipher Garcia. “Quando tem pagode, você sempre dança na ponta do pé”, reforçou Lyvia Roque, responsável pela harmonia.
O perfil faz parte de uma série de reportagens do ND Mais com as rainhas das escolas de samba de Florianópolis que vão desfilar no Carnaval 2024.
“Eu sempre pensava: ‘dessa vez, saio na ala da comunidade. Mas quando eu perder a vergonha, vou usar esta coroa’. Meus olhos brilhavam”, afirma Rainha da Coloninha – Foto: Leo Munhoz/ND
Júlia acatou a sugestão. Apertou a bota quebrada nos dedos e sambou por 1h10 mantendo um pé na pontinha – naquela posição que alguém usa para andar sorrateiramente de madrugada. A atenção precisou ser redobrada: se redistribuísse o peso na plataforma, poderia acabar caindo no meio da passarela.
Deu tudo certo, apesar das dores no dia seguinte. Júlia, junto à rainha Jenipher Garcia e à musa Priscila Costa, representaram todas sambistas, num enredo no qual a Coloninha resgatou desfiles históricos da Nego Quirido.
Júlia vive pela primeira vez o Carnaval como rainha – Foto: Leo Munhoz/ND
O sonho de ser rainha da Coloninha
A estabilidade daquele desfile foi como uma prova de fogo que anteviu o equilíbrio que Júlia precisa conciliar neste Carnaval, como rainha. A agenda é intensa: ensaios duas vezes na semana, eventos, o trabalho como cabeleireira no Centro da Capital.
Para dar conta de tudo, a rainha se divide entre endereços: aquele onde vive com a mãe em Palhoça e o do bairro Coloninha, perto da quadra da agremiação, onde se hospeda no lar de parentes. Este permite que ela durma o suficiente, entre ensaios que varrem a noite e uma rotina diária que começa às 6h.
Júlia estreou na Praça XV como princesa Tiana – Foto: Leo Munhoz/ND
No último sábado (6), Júlia estreou como rainha no Volta à Praça XV, vestida de princesa Tiana, protagonista do filme “A Princesa e o Sapo”. A Coloninha homenageia neste ano a Camerata que, no seu repertório, já interpretou clássicos da Disney. “É uma princesa negra, sabia conseguiria me encaixar e me sentir satisfeita com o que estou representando”, assegura.
“Quando sonhava em ser rainha, via as meninas e pensava: quero estar aí”, lembra Júlia, que desfila desde os 15 anos. O Carnaval é tradição na sua família. “Pensava: ‘dessa vez saio na ala da comunidade, mas quando perder a vergonha, quero usar esta coroa’. Meus olhos brilhavam”, afirma. “Hoje eu perdi a vergonha”.