Na era tecnológica, com diversos exames genéticos e de imagem sofisticados, a medicina tem perdido a sua essência: a comunicação empática entre médico e pacientes.
Interessante notarmos que muitos profissionais dominam as teorias de comunicação, porém a prática é precária e insuficiente. Comunicam aos pacientes uma doença grave sem nenhum preparo e afeto pelo ser humano.
Pacientes vão aos médicos não apenas para diagnósticos e tratamentos concretos de suas respectivas doenças. Qualquer doença afeta o psiquismo das pessoas e isso as tornam sensíveis e vulneráveis na esfera da saúde mental. Esse cuidado deveria ser obrigatório a todos os profissionais da área, independentemente da especialidade escolhida.
No Brasil, com o argumento falacioso de que faltam médicos (o que falta é um plano de carreira de Estado como se tem na magistratura, por exemplo, e melhor distribuição), assistimos passivamente à abertura mercantilista e indiscriminada de milhares de novas vagas em cursos de medicina. Muitas faculdades de medicina não possuem hospitais-escolas e corpo docente de bom nível.
Há, posteriormente, um número insuficiente de vagas em Programas de Residência Médica para a formação dos especialistas. E para solucionar estão criando cursos de pós-graduação frágeis e fajutos para também termos uma “fábrica” de pseudo especialistas no Brasil.
Os currículos também possuem precariedades na formação humanística do médico. Impossível ser médico sem gostar verdadeiramente de gente. Isso é o básico.
Não por acaso, canso de ver pacientes que tomam os mesmos remédios prescritos por dois médicos diferentes e com resultados distintos. O vínculo médico-paciente é essencial também no sucesso terapêutico, as pessoas precisam se sentir respeitadas e acolhidas em seus relatos e queixas, independente das crenças pessoais dos médicos ou de suas próprias neuroses.
Muitos pacientes procuram um profissional garimpado nas redes sociais e se arrependem porque eles demonstram o que não são verdadeiramente. Outros vão a médicos renomados e com currículos excelentes, mas que pecam pela falta de compaixão e empatia. Como seguir um tratamento de doença crônica orientado por um profissional em que você não confia ou não se sente escutado de verdade?
As habilidades sócio-emocionais são decisivas para a prática médica. Tecnologia e inteligência artificial, algoritmos, aplicativos e outros tantos recursos de nada valerão sem o restabelecimento urgente da comunicação verdadeira e sensível entre médico e paciente. Essa essência da arte médica sempre será a principal ao lado do conhecimento técnico sólido do profissional.
Portanto, é urgente que um amplo debate sobre os currículos atuais dos cursos médicos seja restabelecido. E que as pessoas escolham a medicina por vocação e nunca por dinheiro ou status como alguns o fazem. Por fim, um exame nacional rigoroso para avaliar conhecimentos teórico e prático, além de habilidades sócio-emocionais, deveria existir no Brasil para aumentar a confiança da população nos novos médicos que vêm sendo formados.
Referência: http://www.psiquiatriadamulher.com.br
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