Falhas estratégicas e demora para reação dificultam a captura dos dois fugitivos da penitenciária federal de Mossoró (RN), dizem especialistas em segurança pública ouvidos pelo R7. Os detentos Deibson Cabral Nascimento e Rogerio da Silva Mendonça — suspeitos de terem ligações com a facção criminosa Comando Vermelho, no Acre — conseguiram escapar na madrugada em 14 de fevereiro. O Ministério da Justiça afirma que destacou um efetivo de 540 agentes que estão empenhados na força-tarefa de busca, que chega ao 18º dia neste sábado (2).
Para o especialista Leonardo Sant’Anna, alguns fatores podem ter uma relação próxima com as dificuldades de captura dos presos. “O primeiro item foi o tempo que levou até que a fuga fosse percebida. Essa demora é extremamente prejudicial, caso se queira fazer uma captura em um curto espaço de tempo”, afirma.
De acordo com o especialista, o segundo ponto são as conexões criminosas dos fugitivos. “Eles fazem parte de uma facção criminosa que tem muito poder, e a gente fala também de muito dinheiro. Eles devem ter conseguido fazer esse contato por telefone, uma tecnologia que pode ter ajudado na fuga com acesso a mapas e a pontos de melhor deslocamento para uma movimentação mais rápida”, avalia.
Sant’Anna aponta ainda a demora até que as forças se reuniram para realizar a busca. “Esses elementos, realmente, colocam as instituições públicas em uma situação extremamente delicada”, avalia.
Procurado pelo R7, o Ministério da Justiça informou em nota que integrantes da elite da PF (Polícia Federal) e das operações especiais da PRF (Polícia Rodoviária Federal) chegaram em Mossoró na manhã de 16 de fevereiro.
Da PF, foram 18 integrantes do Comando de Operações Táticas (COT). Da PRF, foram sete policiais do Grupo de Resposta Rápida (GRR), unidade de pronto emprego e operações especiais da corporação.
‘Algum tipo de apoio’
Para o também especialista em segurança pública Antônio Testa há indícios de que houve conivência de pessoas de dentro do sistema prisional para a fuga.
“Em teoria, eles estavam incomunicáveis. Então, para eles organizarem uma fuga, eles teriam que ter se comunicado com alguém”, acrescenta.
Leonardo Sant’Anna destacou também a necessidade de um gerente de crise. “Uma pessoa com experiência de campo, para administrar as diversas forças de segurança utilizadas nesse processo. Sem isso, não é possível fazer muita coisa”, diz.
“É chato dizer isso, mas existem algumas instituições que desejam protagonismo, desejam ser as donas da operação. Não é hora para isso. Então, as vaidades, os egos, precisam ser muito bem controlados por alguém que consiga conduzir uma operação dessa magnitude”, afirma.
De acordo com o Ministério da Justiça, foi criado o Comitê Multidisciplinar da Secretaria Nacional de Políticas Penais para fiscalizar periodicamente as estruturas físicas e os equipamentos utilizados pelas cinco penitenciárias federais.
Sant’Anna aconselha que seja colocada em prática um estratégia de comunicação. “Não apenas com quem vai fazer o trabalho de busca e captura, mas também com a comunidade, informando as características e quem são os fugitivos, orientando essas pessoas a como proceder caso os vejam”, afirma.
“Tudo isso por intermédio de todo e qualquer tipo de plataforma de comunicação, desde panfletos que possam ser lançados, de um helicóptero, de um drone, para informar quem não tem acesso à internet ou ao telefone, até propaganda em aplicativos [para quem tem acesso], por exemplo”, enumera.
Testa afirma que os fugitivos podem estar passando por dificuldades.
“É muito provável que eles sejam mortos em confronto com a polícia”, acrescenta.
Outra estratégia aconselhada por Leonardo Sant’Anna é utilizar meios mais adequados para busca e captura dos presos. “É preciso usar a tecnologia: drones, helicópteros e equipamentos que possam fazer uma busca, uma varredura noturna, uma varredura termal”, enumera.
“Outro quesito é a reunião das forças, que realizam esse tipo de trabalho. Não temos um histórico de investimento por parte das instituições, do Estado, para as polícias penais. Isso se reflete também nessa dificuldade de captura”, afirma, complementando que “não basta fazer uma estrutura física, ter todo aquele investimento em arquitetura e engenharia”.
Fontes ouvidas pelo R7 dizem, sob anonimato, que câmeras termais já estão sendo usadas nas buscas pelos fugitivos. Já o Ministério da Justiça afirma que a operação de busca conta com apoio de drones, helicópteros e cães farejadores.
Ainda segundo a pasta, foi determinada a “substituição imediata das câmeras de videomonitoramento inoperantes e/ou com especificações não recomendadas para a especificidade das cinco unidades penais federais; implementação do sistema do Circuito Fechado de Televisão; aquisição de câmeras de videomonitoramento; aquisição de câmeras térmicas; além de outras providências”.