Nas últimas décadas, felizmente, as mulheres têm gradativamente conquistado mais espaço em áreas antes dominadas pelos homens. No Brasil, entre 2019 e 2022, o número de CEOs mulheres subiu de 13% para 17%. Nos bancos e fintechs, as mulheres já ocupam 33% dos cargos de lideranças.
Mas ainda há uma defasagem grande no que tange às oportunidades e direitos profissionais e salariais, e dificilmente o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 5, proposto pela ONU (alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas) será cumprido até 2030.
Uma pesquisa realizada em 2022 revelou que 53% das mulheres afirmaram que seus níveis de estresse estão mais elevados que no ano anterior e 46% relataram estar esgotadas ou apresentaram sintomas de burnout.
Além de tudo, as questões de exigências de múltiplos papéis e funções recai com maior peso no sexo feminino. Tarefas domésticas são pouco valorizadas e as mulheres ainda são as que dedicam maior tempo a elas.
Segundo dados de uma pesquisa recente, 35% das mulheres precisam se afastar do trabalho devido a doenças mentais ou burnout. Temos também agressões e abusos físicos, psicológicos e sexuais com maior prevalência nas mulheres e que deterioram a saúde mental.
Valores sociais e culturais de beleza machistas continuam prevalecendo. A busca por ideais de beleza e corpo perfeito têm colocado a saúde de muitas mulheres em risco. A todo instante, observamos dietas milagrosas, “chips” da beleza contendo substâncias derivadas da testosterona que podem causar sérios danos físicos e mentais.
O pior é que as redes sociais tornaram-se o suprassumo de divulgações equivocadas por parte de modelos, artistas, digital influencers e até por alguns profissionais antiéticos da área de saúde que prescrevem medicamentos sem nenhuma evidência científica e com riscos que eles omitem nas informações que passam às pacientes.
Infelizmente, o poder mercantilista controla o mercado e as mulheres são as maiores vítimas — muitas delas caladas por imposições sociais inatingíveis.
Algumas dietas “malucas” beiram a insensatez. Medicamentos psiquiátricos ou à base de hormônios masculinos são prescritos indiscriminadamente a algumas mulheres. Ou elas obtêm tais medicamentos em mercados paralelos, ou até por indicações de algumas academias de ginástica questionáveis.
Determinados médicos (claro que sem generalizações), observando que grande parte dos seus pacientes obesos são ansiosos ou deprimidos, lançam mão de fórmulas “mágicas” contendo, provavelmente, antidepressivos, derivados de anfetamina, estabilizadores de humor e ansiolíticos — de forma aleatória —, e alguns, infelizmente, até sem alertar, enfaticamente, os seus pacientes sobre tais recursos terapêuticos.
Outros, justificando-se pela necessidade de aderência terapêutica de tais pacientes, ainda mantêm os velhos inibidores de apetite, logo no início do tratamento, misturados a remédios que controlam o diabetes e que devem ser utilizados com critérios. Nada contra o uso de tais drogas, desde que prescritas de forma correta e ética, com orientações precisas de seus riscos e benefícios a todos os pacientes.
Recentemente, uma profissional de saúde divulgou a “bariátrica hipnótica” em suas redes sociais prometendo reprogramar o subconsciente para eliminar o peso de forma rápida e natural, totalmente absurdo e sem nenhuma evidência científica séria.
O mais recente despropósito e má-fé é o tal chip da beleza que de chip não tem nada e muito menos de beleza. O produto é um tipo de bastonete de 2-3 cm que possui uma bomba de hormônios que são colocados sob a pele das mulheres com a promessa de aumentar a massa muscular, a energia e a libido.
Esse engodo vem sendo popularizado nas redes sociais por clínicas médicas inescrupulosas. Queixas comuns têm aparecido como aumento de pelos e do clitóris, acne, alteração de voz, sobrecarga do fígado e até arritmias.
As principais substâncias desses bastonetes contêm testosterona e gestrinona, um esteroide que inibe a ação do hormônio feminino estrogênio. Incrível é que a gestrinona há décadas é página virada da medicina e ficam com essa atitude de risco à saúde das pessoas.
Precisamos valorizar as imperfeições físicas que fazem parte do ser humano. Ideais falsos e frágeis de beleza acabam sendo alimentados por interesses mercantilistas de uma indústria lucrativa que impõe regras e padrões que precisam ser questionados principalmente pelas mulheres.
Há belezas individuais femininas para cada faixa etária e que podem ser aperfeiçoadas sem expor ou causar prejuízos sérios à saúde feminina.
Não adianta também levantar a bandeira contra a gordofobia, por exemplo, se, na prática, as emissoras de TV e outros locais de trabalho não dão oportunidades às mulheres acima do peso ideal no jornalismo, entre outras áreas. Avançamos, mas precisamos avançar muito mais.
Espero que esse Dia Internacional da Mulher signifique uma libertação dos padrões estéticos e comportamentais cruéis aos quais as mulheres continuam submetidas. Observamos avanços em diversos meios, mas há muito ainda a ser feito e concretizado. A própria legislação atual não permite à mulher ter amplo domínio sobre o seu corpo e no Congresso e Senado temos pouquíssimas representantes do sexo feminino.
Trabalhar a autocompaixão e a autoaceitação é vital para ser feliz. Nenhuma sociedade tem o direito de estabelecer quaisquer padrões de forma discriminatória e excludente.
Um Feliz Dia Internacional da Mulher!
Fonte: http://www.psiquiatriadamulher.com.br
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