São Paulo, Brasil
“Só tenho a agradecer por tudo que estou vivendo. Nem nos meus melhores sonhos poderia imaginar viver isso, conquistando títulos com o São Paulo, jogando.
“Sensação única, homenagem ao nosso Rei que se foi, mas que deixou muitas coisas. Vamos viver ele por muito tempo. Tenho certeza de que nunca mais vou esquecer esse dia na minha vida.”
Rafael terminou o confronto que decidiu a Supercopa do Brasil com uma coroa e um cetro.
Ele foi o jogador principal na conquista inédita do São Paulo, no Mineirão.
O goleiro cumpriu a missão fundamental em um plano tático ousado e sofrido de Thiago Carpini.
Foram 14 arremates a gol do Palmeiras contra apenas quatro do São Paulo.
Travar o poderoso Palmeiras, de Abel Ferreira, não deixar Raphael Veiga respirar, obrigar o grande rival a chutes difíceis, de fora da área, ou cabeçadas em bola parada.
O sonho era vencer a final da Supercopa do Brasil em contragolpes.
Mas a decisão por pênaltis era um enorme atrativo.
Carpini conseguiu tirar a emoção do jogo e impedir o Palmeiras de impor o seu maior potencial. Com méritos, conseguiu fazer com que chegassem os pênaltis.
A teoria mostrava: das sete disputas anteriores, o time de Abel Ferreira, só havia vencido uma. Perdeu para o Al-Ahly, no Mundial de 2020; Flamengo, Supercopa de 2021; Defensa y Justicia, Recopa de 2021; CRB, Copa do Brasil, 2021; São Paulo, Copa do Brasil, 2022; Boca Juniors, Libertadores de 2023.
Só havia vencido o Atlético Mineiro, na Libertadores de 2022.
Perdera 17 cobranças das 43 que havia feito.
Coincidências não existem nas estatísticas.
E o São Paulo foi confiante para a decisão por pênaltis, depois do disputado, mas pobre em emoções, 0 a 0, no Mineirão.
Foi a vez de Rafael brilhar.
O goleiro, mineiro, estava no estádio que deu alegria e tristeza. Surgiu como grande promessa no Cruzeiro. Foi engolido pela crise financeira do clube. Conseguiu rescindir na Justiça. Foi para o Atlético Mineiro, mas falhas o levaram à reserva.
E chegou ao São Paulo como mera aposta.
Só que se firmou como nos tempos de juniores, como era goleiro da Seleção Brasileira sub-20.
Readquiriu confiança, firmeza, personalidade.
Para quem não sabe, era exímio defensor de pênaltis nas categorias de base.
Foi com a convicção de que estudou muito os cobradores palmeirenses aliada ao seu instinto, que defendeu as cobranças no canto esquerdo de Murilo e Piquerez.
Vitória tricolor por 4 a 2. Calleri, Galoppo, Pablo Maia e Michel Araujo marcaram para o São Paulo. Raphael Veiga e Gabriel Menino marcaram para o Palmeiras.
Rafael terminou o confronto com uma coroa e um cetro reservados ao melhor da decisão, em homenagem a Pelé. O nome oficial do confronto entre o campeão da Copa do Brasil com o Brasileiro é Supercopa do Brasil Rei.
E fez o São Paulo conquistar o título que faltava na sua imensa galeria. O da Supercopa do Brasil, que se juntou aos Estaduais, Libertadores, Mundiais, Sul-Americana, Recopa, Brasileiros, Copa do Brasil, e agora Supercopa do Brasil.
Abel Ferreira teve de admitir o ‘calcanhar de Aquiles’ do incrível Palmeiras, que venceu nove títulos, desde outubro de 2020.
Mas ficou irritado ao saber das críticas por mais essa derrota nos pênaltis.
“No dia em que os torcedores forem todos unânimes para apoiar a equipe, é o dia que eu tenho meu trabalho feito e posso ir embora.
“Vocês, jornalistas, também gostam de sangue. Há muitos torcedores que têm memória curta. Não esqueçam que, ano passado, aos 30 e poucos minutos (contra o Botafogo)… Prefiro valorizar os torcedores que nos apoiam. Não essas minorias.”
Abel fez questão de apelar para a ironia.
“O Palmeiras é uma equipe competitiva, mas que não é boa em pênaltis. Temos que melhorar, o que querem que eu diga? Não somos bons. Não tenho varinha mágica pra isso. É um momento muito intenso sair do meio de campo até a marca do pênalti. Mas havemos… Havemos de ganhar nos pênaltis um dia…”
E também valorizou seu trabalho que levou o Palmeiras a decidir vários torneios.
“São 14 finais, né?
“São 14 finais. Pra chegar na final e perder é preciso chegar. Não desvalorizo nosso trabalho. “Não conheço equipe que só vença.”
“Mas desculpa, não sou competente suficiente para a ajudar a equipe a bater pênaltis.”
Thiago Carpini tem apenas cinco partidas no São Paulo. Recebeu o elenco escolhido por Dorival Junior. Tem três vitórias e dois empates. Ainda não perdeu. Enfrentou James Rodriguez, que não aceitou ser reserva. O colombiano não quis ir até Belo Horizonte. E deve ser negociado.
Aos 39 anos conseguiu seu primeiro título como treinador. No ano passado foi vice paulista, comandando o Água Santa, perdendo a decisão para o próprio Palmeiras. E foi segundo colocado na Série B com o Juventude, levando de volta a equipe gaúcha à Série A.
Este ano recusou o Cruzeiro e o Santos, por não confiar na organização dos clubes. Aceitou o São Paulo, na ida de Dorival Junior para a Seleção. Mal assumiu e foi o responsável pela quebra de um tabu de dez anos, vencendo o Corinthians, em Itaquera.
E hoje foi campeão da Supercopa do Brasil.
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