Pintura de 8,2 mil anos teria sido de grande ajuda para comunidades locais resistirem diante das adversidades.
Um grupo de cientistas relatou uma importante descoberta, divulgada em um artigo veiculado na revista científica Science Advances no dia 14 (quarta-feira).
No texto, os especialistas divulgam como encontraram a arte rupestre mais antiga da América do Sul.
O desenho foi achado oculto em uma caverna situada na região noroeste da Patagônia e, segundo os testes realizados, a obra foi feita em torno de 8.200 anos atrás, tendo sido repintada diversas vezes nos milênios seguintes à sua criação.
O local onde a pintura fica se chama ‘Cueca Huenul 1’ e possui 895 artes semelhantes, todas em tons de vermelho, amarelo, branco e preto.
A maior parte dos achados são basicamente desenhos de cunho abstrato, com muitas formas geométricas, mas também há alguns mais complexos.
“É incrível a quantidade de arte em rocha que encontramos”, comenta a arqueóloga Guadalupe Romero Villanueva, autora principal do artigo. “Nos arredores há vários lugares com arte em rocha, mas nenhum deles tem a quantidade e diversidade de formatos e cores vista aqui”, disse ela ao portal Live Science.
Qual era a finalidade dessas obras?
Imagem original e projeção dos achados na Patagônia – Imagem: Guadalupe Romero Villanueva/Reprodução
O time de cientistas estudou quatro obras com formas parecidas com pentes, todas possuindo várias linhas verticais paralelas ligadas a uma outra perpendicular e horizontal.
Todas foram feitas em tons de preto e vermelho, coloração obtida por meio de madeira carbonizada, segundo dados do jornal norte-americano The New York Times.
As testagens por radiocarbono dos pigmentos pretos revelaram que a arte rupestre mais antiga pintada pelo ser humano foi feita há 8.200 anos e continuou a receber reparos pelos próximos 3 mil anos seguintes, o equivalente a 130 gerações.
Os pesquisadores afirmaram que o quadro primitivo foi criado em algum momento do período Holoceno, quando os desertos sul-americanos eram ainda mais secos.
Por isso, para eles, essa obra rústica era uma forma de transmitir informações entre as comunidades e também para as gerações vindouras.
“Nós pensamos que essa era parte da estratégia humana para construir redes sociais entre grupos dispersos, o que contribuiu para tornar tais sociedades mais resilientes diante de uma ecologia bastante desafiadora”, explicou o arqueólogo Ramiro Barberena ao Live Science.
“É evidente que esse local provavelmente foi importante para a comunicação no passado e crucial para a sobrevivência dessas sociedades”, complementa Villanueva.
Por fim, para que a arte rupestre fosse padronizada e refeita por anos a fio, ela deveria ter um objetivo maior, como legar dados importantes sobre sobrevivência para quem viria no futuro, além de sustentar uma rede de segurança, não deixando um conhecimento importante se perder ou ser modificado, o que é comum nas tradições exclusivamente orais.